Criar lembretes e se visualizar “no futuro”, pressionado por prazos iminentes. Essas são duas maneiras que podem ajudar a reduzir a procrastinação no trabalho, segundo estudo publicado na revista americana Nature Communications, dedicada a pesquisas científicas.
De acordo com Raphaël Le Bouc, autor do estudo e neurologista do Paris Brain Institute, entidade ligada à Universidade de Sorbonne, na França, a raiz do adiamento de obrigações pode ter um viés cognitivo. “Acreditamos que cumprir tarefas será, de alguma forma, mais fácil depois de alguns dias”, analisa.
Segundo Le Bouc, adiar compromissos obedece a uma “variação individual”, mas é uma tendência que todos encontraremos em diferentes momentos profissionais. “Cérebros procrastinadores acreditam que o trabalho vai ‘ficar bem mais simples amanhã’”, diz.
A equipe do estudioso pediu a 43 adultos que escolhessem entre receber recompensas menores por trabalhos realizados mais rapidamente ou ganhar prêmios maiores mais tarde; assim como se desejariam concluir atividades mais fáceis mais cedo; ou difíceis, depois.
Desenvolvimento
O trabalho – baseado em entrevistas, modelos computacionais e análises neurais – indicou que as pessoas desconsideram ou minimizam o esforço futuro, pois optam por finalizar uma atividade mais rápida logo do que concluir algo mais complexo no futuro.
Na prática, segundo Le Bouc, cérebros propensos à procrastinação são especialmente sensíveis à ideia de que deixar para depois é “muito melhor”. Portanto, “Quando imaginam fazer um esforço em um mês, o ‘custo’ dessa obrigação aparentemente diminui”, disse. “Mas para os não procrastinadores, esse ‘valor’ se esvai bem mais devagar.”
Em outra análise, os pesquisadores pediram aos participantes que escolhessem se realizariam tarefas para ganhar uma recompensa “agora” ou fariam o mesmo encargo amanhã, com a mesma premiação. Assim, como esperado, segundo o autor, quanto mais esforço algo exige ou quanto menos gratificante é a missão, maior é a probabilidade dos entrevistados de estenderem prazos. Ao mesmo tempo, quando a equipe de Le Bouc dizia o quão difíceis seriam os expedientes futuros, a intenção do grupo era atrasá-los ainda mais.
Os estudiosos também analisaram os reflexos causados por afazeres considerados burocráticos. Os voluntários foram informados de que, para receber um pagamento, deveriam preencher em casa e devolver dez documentos “chatos” em 30 dias. No final, quase todos atrasaram a entrega e seis (13,9%) dos 43 participantes nunca mandaram a papelada pronta.
Conclusão
Em resumo, diz Le Bouc, quanto mais o cérebro calcular quanto esforço é necessário para fazer algo depois, maior será a chance de postergar. Com base na análise, foram listadas duas maneiras de lidar com a procrastinação:
- Lembre-se da tarefa
Como a procrastinação é uma decisão que pode se repetir ao longo de um período, é preciso lembrar que a responsabilidade precisa ser cumprida. Desta forma, definir lembretes para executar o que é pedido pode reduzir a probabilidade de adiamentos. - Visualize o seu futuro “eu”
É possível estimular o cérebro para acreditar que um serviço nem sempre ficará mais fácil com o passar dos dias. Imaginar o seu futuro “eu” – sobrecarregado, com contas não pagas e prazos urgentes – pode acender um sinal revelador. Em suma, protelar o que deve ser feito não tornará a vida melhor.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Canva