Certa de que o mercado corporativo não lhe traria realização pessoal, Luciana Bonometti, de São Paulo, quis resgatar as raízes familiares e investir no setor alimentício. Foi assim que a empreendedora migrou da economia para a confeitaria e, agora, dez anos depois, foca no segmento de biscoitos e cookies. Nichando ainda mais seu negócio, ela quer virar referência em presenteáveis comestíveis, com uma pegada mais luxuosa. A aposta, ela diz, rende tíquete médio bem mais atrativo.
Tendo atuado como consultora econômica e, na sequência, como auxiliar de pesquisa, ela lembra que, quando começou a estudar confeitaria, conciliava as aulas com os pedidos de guloseimas que recebia em casa. “Sempre amei cozinhar e considerava seguir carreira nesse campo, mas não via espaço no mercado para o que eu desejava: uma pequena confeitaria. Optei por outro ramo, mas a paixão pela culinária sempre esteve presente desde os 6 anos de idade”, afirma.
Neta de italianos que vieram da Lombardia para a Argentina e, posteriormente, para o Brasil para trabalhar com moagem de farinha, Bonometti sempre esteve envolvida com esse universo. Sua mãe, bioquímica de alimentos, atuou no controle de qualidade na área em uma fábrica até o seu nascimento.
A empreendedora conta que, ao decidir pela gastronomia, buscou lugares que a inspirassem com suas receitas. Dedicou um ano a viagens e cursos. Estudou primeiramente na Argentina, opção mais acessível para o que desejava aprender. “Antes de investir mais, quis ter certeza da minha escolha”, diz. O fato de ter familiares ali também ajudava.
Depois, vieram Itália e França, onde fez especializações que buscava. Em terras italianas, frequentou a CAST Alimenti e a Carpigiani para aprender sobre sorvetes; em território francês, foi à Lenôtre ter aulas de confiserie, que incluía doces como balas, marshmallows e geleias.
Não uma, mas duas marcas
Em 2012, a empreendedora fundou a Lu Bonometti Biscotti & Dolcezze no bairro dos Jardins. Depois de seis anos, com o negócio crescendo e em busca de um novo lugar para fabricar suas receitas, nasceu a Casa Bonometti, num imóvel generoso em Higienópolis.
“Havia uma necessidade de aumentar nosso menu com produtos diferenciados. A Casa Bonometti trazia tortas, bolos e pães, em uma proposta muito charmosa para aquele momento do café ou do chá da tarde”, explica a empreendedora. O espaço amplo permitiu instalar a área administrativa, um estoque maior e até acomodar uma sala de aula.
A segunda empreitada foi um empreendimento familiar, já que a irmã Ana Carolina Bonometti juntou-se à sociedade. À época, a empresa aumentou a linha de produtos, incluindo uma série de fermentação natural, novidade em São Paulo.
Eram duas marcas distintas correndo paralelamente: a Casa Bonometti, em Higienópolis, oferecendo um cardápio amplo, incluindo opções salgadas e almoços. Já a Lu Bonometti Biscotti & Dolcezze, nos Jardins, focava na produção de biscoitos e cookies e estava presente em ambos os endereços.
Três anos depois, em 2021, a irmã decidiu deixar a sociedade. O período andava difícil — as empresas foram bastante afetadas pela pandemia. “Nossa capacidade de adaptação foi testada ao máximo. Em março de 2020, tivemos que limitar nosso serviço apenas ao delivery e reduzir a equipe ao essencial, mantendo nossa cozinha o mais vazia possível”, lembra a empreendedora.
Planos revistos
Foi ainda naquele período que as então sócias perceberam a necessidade de reestruturar a loja, que havia se transformado ao longo de dois anos. “Planejávamos eliminar a linha de comida congelada, que sustentou o negócio durante a pandemia, mas sabíamos que não faria parte da nossa operação pós-normalização”, revela Bonometti.
A loja em Higienópolis, inaugurada em 2018, fechou as portas em setembro de 2022. O momento foi adequado para uma grande revisão da empresa e da própria marca. Analisando o momento do mercado, do negócio e da própria vida pessoal, a empreendedora decidiu implantar decisões importantes, que estão sendo realizadas desde o segundo semestre do ano passado.
“Em agosto de 2021, eu me encontrava com dois filhos, um de 6 meses e outro de 3 anos, e gerenciando duas lojas, uma das quais não me agradava. Quem trabalha comigo sabe que, no segundo semestre, meu foco principal é o Natal, que começa a ser planejado no meio do ano para atender às vendas corporativas em outubro”, revela.
No início do ano passado, ela já sabia que precisava reformar a loja e alterar o conceito. “Começamos a fazer ajustes no cardápio, ao mesmo tempo em que percebi que manter as duas lojas, com duas crianças pequenas e minha produção de conteúdo, não era mais viável”, pontua.
O processo de reformulação da identidade visual está sendo implementado. Outras mudanças também estão em andamento e só foram possíveis porque Bonometti se concentrou em um só negócio, o que hoje lhe permite focar tanto na loja como nas vendas corporativas.
Aliás, este é o foco do momento e de um futuro próximo. “Queremos solidificar a marca como sinônimo de qualidade em presenteáveis comestíveis de luxo, seja para pessoa física ou jurídica”, afirma.
Atualmente, o catálogo tem cerca de 20 tipos de biscoito, que podem ser acondicionados em mais de dez embalagens, entre caixas, latas e vidros de diversos tamanhos, para atender diferentes ocasiões.
Um nicho rentável
“Biscoito é um problema, porque na loja, se tomar um café e comer um biscoito, o cliente gasta menos do que quando vai a uma confeitaria que serve sobremesas como bolos e tortas. É difícil [se manter] só com o movimento de loja”, argumenta.
Considerando apenas loja física, em datas comuns, o tiquete médio varia entre R$ 30 e R$ 35. No corporativo, é de R$ 2 mil. Em relação aos brindes, a média unitária vai de R$ 20 a R$ 25, e os mais vendidos ficam na casa de R$ 20.
A intenção é fechar o faturamento deste ano o mais próximo possível do de 2022 ou, pelo menos, repetir os números — na casa dos R$ 2 milhões. Nas últimas semanas, segundo Bonometti, as vendas de Natal começaram a mostrar seu potencial.
Entre os produtos do cardápio, os mais vendidos, definitivamente, são os biscoitos ‘rachadinhos’. Dentro da linha, o que mais vende é o de pistache — há outros três sabores: amêndoas, avelã e gianduia (chocolate com avelãs).
De acordo com a proprietária, os panetones também são muito procurados. “Vende tanto no Natal que, mesmo não comercializando panetone nos outros dez meses do ano, ele continua sendo um dos mais vendidos”, comemora.
Futuro promissor
Para o próximo ano, a ideia é ampliar a distribuição e continuar reduzindo a dependência da loja física, focando mais no corporativo e em outras frentes. Atualmente, os produtos são encontrados em casas especializadas, como no empório Casa Santa Luzia.
Bonometti observa que um desafio significativo é a escolha de não usar conservantes, o que resulta em prazo de validade mais curto, dificultando esse tipo de expansão. “Acredito que ainda há oportunidades a serem exploradas, tanto no crescimento da empresa quanto no segmento corporativo, onde estamos começando a ganhar novamente impulso”, finaliza.
Fonte: PEGN